Crítica Touro Ferdinando - A animação Brasileira indicada ao Oscar
- Arantxa Torquato
- 10 de fev. de 2018
- 3 min de leitura

Para quem nunca havia ouvido falar antes dessa história. O Touro Ferdinando nasceu em 1936, quando habitou as páginas de um livro infantil de enorme sucesso do autor Munro Leaf, que ganhou inclusive vários prêmios nessa categoria. Mas não é apena isso, em 1938 a trajetória do nosso amiguinho de chifres migrou para o cinema, em um curta produzido pela Disney que acabou levando a estatueta do Oscar para casa. Agora, algumas décadas depois, o touro cordial e pacifista ganha uma nova roupagem através da direção do brasileiro Carlos Saldanha (Era do Gelo) fazendo com que sua história concorra novamente como melhor animação no Oscar.
A trama se desenrola em um rancho na Espanha, onde touros são criados, treinados e vendidos para participar nas famosas touradas do país, uma tradição cruel que infelizmente ainda continua em vigor. Rodeado por amigos que acreditam que ser um lutador é o único destino aceitável para um touro, Ferdinando se mostra dono de uma personalidade totalmente diferente. Ele não gosta de brigas e muito menos da ideia de um dia duelar dentro de uma arena. Ele prefere ficar no seu canto curtindo o doce aroma das flores. Os animais do rancho o provocam o tempo todo apontando seu jeito bondoso e corpo fraco. Mas ele não se importa, continua ali dizendo que aquele não é o tipo de vida que quer levar, até o dia em que seu pai é escolhido para lutar em Madrid e nunca mais retorna.
Ferdinando percebe que não pertence aquele lugar, e mesmo assustado consegue fugir. Encontra uma fazenda para chamar de lar, juntamente com uma família que o adota. Nina (Maysa Silva) é a personificação do amor em forma de menina, que o mima e se torna sua melhor amiga. Agora ele se sente completo e verdadeiramente feliz, pois está em um lugar onde pode ser livre, ser gentil, sentar embaixo de uma grande árvore e admirar uma bela paisagem enquanto cheira as flores.
Mas o cenário começa a mudar, quando uma grande confusão acontece no tão esperado festival das flores. Uma pequena abelha é o início para uma enorme confusão. Ferdinando não tem dimensão de seu grande tamanho, e sem pretender assusta uma vila inteira de pessoas que não sabem da sua bondade, mas apenas enxergam uma fera de quase 1 tonelada. O que resulta em nosso protagonista capturado como um animal selvagem que representa muito perigo. E para onde ele é levado? Como obra do destino nos vemos novamente na “Casa del Touro”. Sim! Isso mesmo! O mesmo rancho em que ele viveu sua infância. Ali Ferdinando reencontra figuras do passado, conhece novas, e sente uma necessidade enorme de mostrar que existe uma realidade diferente daquela. Ele precisa fugir e ajudar a todos.
Uma mensagem bem clara na animação é a de que não precisamos seguir nenhum padrão, um filme sobre aceitação, e perceber que vale a pena ser quem se é realmente. Cheio de cenas engraçadas, acredito que vai te surpreender e quem sabe ganhar seu coração assim como ganhou o meu.
Há muito tempo já se tem a consciência de que desenhos animados não são mais produzidos apenas paras crianças. O Touro Ferdinando é um exemplo bem claro, capaz de emocionar os mais sensíveis e levantar vários debates. Explorando um contexto em que os animais que não se adaptam são vendidos para o açougue, prontos para o abate, é impossível não se impactar com a sutileza em que se aborda a realidade dos matadouros. E muito difícil não se questionar sobre as touradas na Espanha e sobre a indústria da carne. De forma singela e simples, vai tocar crianças e adultos, trabalhando a empatia, com a dose certa de humor e com um pedido de não violência.
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