The End Of The Fucking World: O Start De Uma Fucking Série

Você já teve vontade de começar sua vida do “0”? Já se imaginou alguma vez chutando o pau da barraca, saindo por aí sem ter que se importar com regras ou dar satisfação a alguém? É basicamente isso que James (Alex Lawther) e Alyssa (Jessica Barden) fazem em The End Of The Fucking World, a nova série original da Netflix.

Cansados de fingir estarem confortáveis com suas vidas, os dois jogam tudo pro ar e colocam o pé na estrada sem se importar com quem fica para trás.

Numa parceria com o canal britânico Channel 4, a série conta as desventuras desses rebeldes sem causa, que decidem seguir os dias perigosamente. Com sérios - e nítidos - distúrbios psicológicos, a dupla principal inicia sua parceria com uma certa estranheza, entre palavrões soltos e limites inexistentes. Ela odeia o padrasto, não tem afinidade nenhuma com a mãe e tampouco se encaixa no modelo de família perfeita. Enquanto ele sempre teve um gosto particular por facas e a vontade de matar alguém, vendo nela a oportunidade de uma primeira vítima. Seguem então sem um tostão no bolso, pedindo carona, roubando carros e otras cositas más. Ela sem papas na língua ou qualquer noção sobre limites. Ele com o desejo de matá-la.

Cada capítulo traz novas reviravoltas, e os oito episódios de apenas 20 minutos, são mais que suficientes para deixar uma vontade louca por mais. É uma daquelas tramas marcadas por um humor sombrio, com um “quê” de Dexter e Hannibal, em que não importa as atitudes erradas, a falta de pudor e culpa das personagens, lá estamos nós torcendo até o fim para que os “mocinhos reversos” escapem ilesos. E grande parte da qualidade da série se deve graças aos talentosos atores que dão vida ao nosso casal central. Abraçando com maestria todas as esquisitices e peculiaridades dos adolescentes, contornando as nuances negativas de uma maneira capaz de nos mostrar o lado sensível de dois jovens perdidos em um mundo mais cruel do que eles.

The End of the Fucking world é uma adaptação dos quadrinhos de Charles Forsman. Todos os personagens são de certa forma caricatos, possuidores de uma atmosfera triste, um ar que nos faz lembrar um pouco as obras de Tim Burton. A fuga de James e Alyssa nada mais é do que uma tentativa de fugir do mundo cansativo e depressivo dos adultos. No meio de tanta irresponsabilidade e loucura, nos deparamos com uma busca por novos horizontes, no anseio desesperado de ficar longe da realidade cada vez mais próxima: a vida adulta. A série ainda propõe um debate a respeito do que é ser mal, e se essa é uma característica que nasce ou não com cada um. Afinal, a bondade é escolha ou consequência? Seria um reflexo de uma vida marcada por traumas e uma infância complicada?

O fato é que a cena em que um indivíduo corre em disparada logo após completar 18 anos não é por acaso e sim uma metáfora dos sentimentos prestes a explodir na gente que não pode simplesmente fugir.